Nunca tinha ouvido falar desse livro antes de começar a ler blogs feministas. A dica veio primeiramente do
blog da Lola, mas percebi que várias outras blogueiras já haviam lido e considerado 'obrigatório'. E agora que eu também li, reitero que realmente o é.
O formato não é de romance, é mais como uma conversa reveladora com uma amiga ou professora muito inteligente e bem-informada. O livro é dividido em partes, mais ou menos descrevendo o papel da mulher em cada faceta da sociedade e como o mito da beleza influencia esses papeis. Por exemplo: Cultura, trabalho, religião, em que são abordados assuntos variados, como anorexia/bulimia, cirurgias plásticas, história dos movimentos feministas, etc.
Aprendi com essa leitura coisas novas e muito importantes para mim, como mulher e como pessoa, entre as quais algumas que gostaria de destacar:
1) A rivalidade entre as mulheres
não é algo
natural, mas 'plantado' em nossa cultura.
"É mais difícil encontrar a solidariedade quando as mulheres aprendem a se ver mutuamente em primeiro lugar como beldades. O mito faz com que as mulheres acreditem que é cada uma por si."
Sabe aquele lema, "dividir para conquistar"? Sim, a autora se baseia numa espécie de
conspiração da sociedade contra o sexo feminino, e explica que isso é devido ao paternalismo presente nas estruturas de poder, hoje e no passado, o que sempre colocou a ascensão feminina como uma ameaça a quem está no topo e não deseja, de modo algum, que ocorram mudanças. E ela apresenta dados que exemplificam a pouca participação da mulher na economia, política, cultura, fazendo perceber porque o sexo feminino é como uma 'minoria oprimida', apesar de sermos basicamente 50% da população.
"A lógica da beleza insiste que as mulheres considerem umas às outras como possíveis adversárias até descobrirem que são amigas."
2) 'Feiura' e 'beleza' não são conceitos biológicos e instintivos, como estamos acostumadxs a pensar, mas sim inventados de acordo com a necessidade política do cenário histórico.
"A sociedade de fato não se importa com a aparência das mulheres por si. O que realmente importa é manter as mulheres dispostas a permitir que outros lhes digam o que podem e o que não podem ter. Em outras palavras, as mulheres são vigiadas, não para que se tenha certeza de que se comportarão, mas para se ter certeza de que elas saibam que estão sendo vigiadas."
Prova disso é que ao longo dos anos, o padrão de beleza já passou por diversas mudanças e é muito provável que continuará 'se adequando'. Esses conceitos existem hoje para oprimir as mulheres fazendo com que odeiem seus corpos e alimentem a indústria da estética, buscando um padrão que é propositalmente abstrato para que nunca seja alcançado. De quebra, as mulheres gastam o seu tempo hábil se
embelezando, quando poderiam estar estudando, se tornando instruídas, e lutando contra a opressão.
3) O machismo não é intrínseco aos homens (!).
"Os homens são estimulados visualmente pelos corpos femininos e demonstram menos vulnerabilidade às personalidades das mulheres porque desde cedo são treinados a reagir assim, enquanto as mulheres são menos estimuladas visualmente e mais emocionalmente por ser este último o treinamento que recebem."
Eles também sofrem pressão do meio para objetificar a mulher, e também pra
eles são impostos os conceitos de beleza e feiura. Claro que o modo como são atingidos é diferente, mas a consequência é infelicidade geral, pois é difícil construir relações profundas e substanciais baseando-se em aparência, concorda? Uma observação minha fora do livro é que devagar os homens também estão se tornando alvos das propagandas estéticas. Ou seja, está se formando um
mito da beleza masculino, e em breve eles também serão proibidos de envelhecer, engordar e ter 'pelos demais'. Claro que isso não será bom para a as mulheres, muito menos para o planeta, que não poderá sustentar por muito mais tempo essa indústria capitalista nervosa. A libertação do mito da beleza é boa para ambos os sexos, para a humanidade, e muitos já se deram conta disso.
"A paz e a confiança entre homens e mulheres que se amam seria tão prejudicial para a economia de consumo e para a estrutura do poder quanto a paz na terra o seria para o complexo industrial-militar."
São tratados diversos outros assuntos, de forma muito mais aprofundada do que escrevi. E, no final, a autora apresentou um caminho de esperanças contra essas amarras invisíveis, o que considerei muito bem colocado, pois ao longo do livro são mostradas verdades quase sempre amargas.
Recomendo enfaticamente esta leitura para todxs, especialmente para as adolescentes, pois lança uma luz muito esclarecedora sobre as pressões da sociedade e da cultura sobre nós, que é muito intensa nessa época da vida, e mostra uma alternativa libertadora de tão simples: Amar nosso corpo, simplesmente porque existimos dentro dele.
"Se o fato de ser amada "do jeito que é" fosse considerado mais excitante do que receber uma classificação de quatro estrelas, a mulher se sentiria segura, desejável, insubstituível, mas nesse caso ela não precisaria comprar tantos produtos. Ela gostaria demais de si mesma. Ela gostaria demais das outras mulheres. Ela levantaria a voz."
Para quem gosta de ler em PDF, pode baixar o livro de graça
nesse link, que copiei do
blog da Lola.